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8 de março de 2011

Um lugar pra se viver

Há certas coisas que não se pode deixar perder em meio ao ritmo acelerado de um set de filmagem. O aconchego de alguns abraços e olhares fez da luta-filme um organismo vivo, autônomo e único. Todo primeiro longa metragem deve ter sua trajetória imaginada, desviada e reinventada ao longo do processo e pelas pessoas que acabam fazendo parte dele. Na verdade, todo e qualquer filme tem seu caminho, suas marcas, seus erros e surpresas. Só posso, contudo, falar desse aqui.

Quando conheci essas meninas, Ciça e Sielma, elas eram bem pequenas e já sabia que seriam elas as atrizes do filme. Escrevemos a história em função de seus olhares e compreensão do mundo, e nos adaptamos ao jogo delas para construir o nosso. Kaia e Reka, as pequenas ciganas amigas, são separadas na infância, pelo destino do filme, mas se fazem acessíveis através de sonhos, de pensamentos e de memórias que se recuperam através de relâmpagos da mente, de objetos que remetem a algo, de insuspeitas canções trazidas pelo vento.

No filme, Georgette Fadel faz Kaia adulta e Julia Zakia, Reka adulta. Olhar para as meninas (nossa infância ali tão perto de nós e ao alcance de nosso tato) ao longo do mês de filmagem no sertão de Alagoas nos dava força, como atrizes, mas também nos trazia uma responsabilidade enorme. A espontaneidade delas e de sua relação haveria de ser a base de nosso trabalho.

Entre belos planos e paisagens. Entre a fotografia e a direção de arte. Entre a produção e a equipe toda ali ralando, o melhor lugar (espaço/tempo) do set com certeza foi esse colo anjo amigo, esse carinho consolador, essa pequena cigana senhora de si que me afagou, em ocasiões como essa, durante e depois da cansativa rotina da direção, do sol duro do sertão na cabeça, afastando dúvidas ásperas que poderiam paralizar a ação e a emoção.

Hoje é terça de carnaval, já não voltaremos mais ao sertão para fazer esse filme, pois já está feito. Mas, através dessas imagens de Gui Mohallem tive acesso direto ao que de melhor aconteceu ali em Alagoas, e agradeço. Em alguns minutos voltarei ao photoshop, onde estou fazendo um caprichado livreto de marketing para recomeçarmos a captação de recursos em busca de viabilizar a edição e finalização do filme. Foi bom ver essas imagens, lembrar como vale à pena.

O sonho, a realidade e a multiplicação de bons encontros, como esses.
Se isso estiver na tela, depois do filme pronto e afetar os sentidos do espectador, então teremos cumprido boa parte de nossas metas e teremos boas chances de apresentar um bom filme.

Ciça Ferraz (REKA) e Julia Zakia- Alagoas 2011
O melhor lugar do mundo (com Sielma Ferraz- KAIA)

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